O profissional do Direito lida com questões de máxima relevância humanística e social, com temáticas que envolvem a dignidade da pessoa humana, o estado Democrático de Direito, a vida, o meio ambiente, a honra, o trabalho, a segurança pública e a Democracia, entre tantas outras matérias.
Para bem exercer seu ofício, é fundamental não apenas o conhecimento jurídico, mas também amplo entendimento do objeto sobre o qual recai a aplicação do Direito. Por isso, a formação multidisciplinar desse profissional é condição essencial para a correta aplicação das normas jurídicas.
O mesmo pode ser dito do escritor literário, pois não basta o domínio da ferramenta de escrita: é imprescindível que o conteúdo seja de qualidade e isso passa pela experiência, conhecimento, visão e criatividade daquele que escreve.
Quem transita com habilidade entre textos jurídicos e literários é a Dra. Gracia Cantanhede, que por décadas atuou como Procuradora Federal da AGU, mas que sempre manteve ardente a paixão pela Literatura. É autora de contos, poesias, crônicas e romances, com diversos livros publicados. Gracia Cantanhede concede ao site Viver Direito esta entrevista exclusiva para tratar sobre dois temas especiais em sua vida: Direito e Literatura.
Gracia Maria Baldoni Cantanhede nasceu em Campos Gerais (MG), filha de Atílio Baldoni e Maria José Morais Baldoni. Tem dupla cidadania: brasileira e italiana. É casada com o Subprocurador-Geral da República Getúlio Rivera Velasco Cantanhede e tem dois filhos. Reside em Brasília desde 1972. É advogada, formada pelo UniCeub (em 1997), escritora e Procuradora Federal aposentada da Advocacia-Geral da União, dedica-se à literatura, tendo oito livros publicados: PALAVRA DE MULHER – Crônicas publicadas no Caderno Mulher do jornal Correio Braziliense (1994); JOGO DE PERSONA – Poesias (1997); MULHERES APAIXONADAS – Contos (2013); MADONNA CHEGOU – Romance (2017); BACIA DAS ALMAS – Poesias (2017); TANTO FAZ SE FOR MENTIRA OU VERDADE – Contos e Crônicas (2018); CORTINA DE CONTAS – Poesias (2018); e BRASÍLIA, MEU AMOR – Contos, crônicas e poesias (2019). Em julho de 2020, seu romance “Cabra-cega” foi aprovado e editado pela respeitada Editora Patuá. O lançamento será este ano, com prefácio do escritor e crítico literário Ronaldo Cagiano.
Viver Direito – Renomados(as) juristas conciliam a carreira jurídica com a vocação artística. O ex-presidente do STF, Min. Carlos Ayres Britto, é um dos exemplos mais conhecidos em nosso país. Na sua vida, qual paixão surgiu primeiro: o Direito ou a Literatura?
Dra. Gracia Cantanhede – A literatura surgiu quando eu tinha 11 anos e minhas redações escolares passaram a ser lidas em sala de aula. Foi sempre assim: as colegas pediam para eu ajudá-las a escrever, as professoras elogiavam minha facilidade para expressar sentimentos pela escrita e fui muito estimulada a ler desde os primeiros anos escolares. Antes, a oralidade das histórias infantis era muito prazerosa para mim.
O gosto pelo curso de Direito veio quando eu já era professora. Tive dúvidas se seguiria a carreira jurídica, mas creio que foi a melhor opção.
Viver Direito – De que modo a experiência jurídica como procuradora federal contribuiu para a sua formação e evolução enquanto escritora literária?
Dra. Gracia Cantanhede – Contribuiu pelo conhecimento de maneira geral. O estudo dos Códigos e das Leis é um aprendizado que engloba Direitos Humanos, por exemplo. A sensibilidade do escritor, a necessidade de lutar por justiça, pelo meio ambiente e por uma sociedade mais justa são fatores entrelaçados. Direito e Literatura se abraçam.
O advogado precisa ler muito. Não só livros jurídicos. Adquirir conhecimento é imperioso para a formação de um bom profissional. Foi lendo processos criminais, por exemplo, que escrevi alguns contos ou poemas.
Viver Direito – No mesmo sentido, de que modo a visão artística/literária contribuiu para a sua prática forense?
Dra. Gracia Cantanhede – Creio que sempre usei de minha sensibilidade como mulher e como profissional de Direito para dar meus pareceres. Alguns até se tornaram normativos, enquanto estive na Procuradoria do Ibama, por exemplo. Razão e sensibilidade nortearam minha vida como Procuradora Federal. Sempre estudei muito os processos. Nunca descuidei dos estudos.
Viver Direito – De algum modo, o Direito aparece em suas obras literárias? E a literatura, de alguma forma se fez presente na atuação enquanto procuradora federal da AGU?
Dra. Gracia Cantanhede – Sim. Meus pareceres continham sempre algo de literatura, seja em citações, em ilustrações ou argumentos. Muitos colegas comentavam que era prazeroso ler o que eu escrevia. Certa vez, dei um parecer em forma de poema. As duas visões uniam-se à maneira de lutar para que a justiça prevalecesse, sempre.